domingo, 5 de outubro de 2008

E foi dada a largada.

No meu último post decente, eu dizia o quanto estava ansiosa pela "bandeirada da largada". E eis que acontece. E eu começo a ter um medo que não tinha sentido antes.

Minha família sempre se mudou. Mudança de cidade e de casa, nunca foi, exatamente, um problema pra mim. Eu nasci em Brasília, onde morei muito pouco, extamente 5 anos e meio, em toda minha vida. Os outros 19 anos e meio eu morei em Salvador. E foi lá que eu descobri de onde pertencia.

Eu pertenço a Bahia, ponto. É lá que eu gosto de me sentir alguma coisa. Eu não me sinto candanga (descobri há pouco tempo que os brasilienses se ofendem quando são chamados de "candangos"; engraçada essas coisas de Brasília. Achei aqui na " Desciclopédia" um resumo do que é "ser candango" para os brasilienses: http://desciclo.pedia.ws/wiki/Candango. Definitivamente, uma ofensa. Fiquei impressionada com a parte: "acham que falar que nem bandido é ser alguém na vida. Basta procurar em supermercados e lojas de 5ª categoria que você irá encontrar tais seres em seus futuros empregos de empacotador, faxineiro, lixeiro e etc... ". Depois de tudo isso, eu não vou nem entrar no mérito de explicar que candango era o nome designado aos nordestinos que trabalharam na construção de Brasília e que, curiosamente, o troféu dado aos vencedores do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília tem por nome Candango. Eu não me sinto candanga - falando como algo positivo - e, depois disso, muito menos brasiliense). Eu me sinto baiana. Sinto como se tivesse nascido e nunca tivesse saído de Salvador. Gosto do meu sotaque, ainda que ele não seja tão arrastado como eu gostaria. Gosto de me sentir pertencente àquele lugar.

Achei que isso era apenas um sentimento, interno, que tinha pouca interferência na minha vida prática. E de fato, não tinha muita. Mas agora, como num passe de mágica, apertaram um botão e isso tem tido um importância enorme.

Agora que vou embora da terra que sinto minha, estou quase sem querer, procurando todas as grandes referências que tenho dela e reforçando, colhendo e estocando no meu bunker de baianidade. E fico pensando em que momentos eu terei que acioná-lo a partir de agora. É tudo tão legítimo que fazem parte dessas referências todas as coisas ruins também, mas não menos importantes.

Nem saí ainda, mas fico pensando nos cheiros que sentirei quando voltar, nas letras, nos números, nas palavras; da possibilidade de saber em que prédio alguém mora pela cor e nome; de comprar beijú e marisco, facilmente, no supermercado; de poder pedir pão cassetinho na padaria e o padeiro me entender sem pensamentos dúbios; de entrar pelo ônibus pela porta de trás e sair na da frente; chamar o semáforo de sinaleira, saber o que é sargaço e pegar fila no Ferry. Tantas coisas sutis e tão intrínsecamente conectadas que me fazem acreditar que todas elas nunca sairão de mim. Rezo para que nunca saiam, pois elas também fazem de mim quem sou.

Estou animada pela possibilidade de viver novas coisas, descobrir novas referências, viver uma nova cidade e aumentar o meu currículo. Haha. Mas confesso que estou mais ansiosa ainda com a possibilidade de reforçar as minhas raízes, como os cabelos de Sansão; mostrar quem sou mostrando de onde vim.

Fico com medo da falta que sentirei do cotidiano com meus amigos, com a minha família. Mas também sei que eles estão dentro de mim e são parte importantíssima desse quebra-cabeças. Pensando bem, eles são exatamente a cola do quebra-cabeça; são eles que me ensinam a reconhecer o que é meu, quem sou, de onde vim. E tenho medo de dizer "tchau, vou ali e já volto", porque esse "já volto", pode não acontecer num tempo que espero. Mas é sabendo que vou voltar, que faz com que um pedaço de mim nunca saia. Mas o "tchau" é duro e a sensação de um pedaço arrancado, dói.

Tudo isso quis sair assim, hoje, depois que li uma reportagem sobre Dorival Caymmi, esse baiano que viveu os seus últimos 70 anos no Rio de Janeiro, mas sempre foi uma referência para e da Bahia. E assim ele permanece. A última frase da reportagem ficou ecoando em mim: "morre-se um pouco cada vez que dizemos 'adeus' , de Cole Porter". Não me importo de morrer um pouco, porque fazemos isso todos os dias; morremos para re-nascer, re-novar, re-viver; pra dar espaço para o que ainda vai nascer. É preciso que se morra, pra saber o que é seu, tudo aquilo que é imortal e protegido da "morte do adeus".

4 comentários:

emmibi disse...

sua cadeira na bahia é cativa.
e vê se esse "volto logo" é um "volto logo" mesmo.

Fernanda Fernandes disse...

Zezé lindonaaaa!!!!
Pena que sua nova casa não será o RJ... Daríamos muitas risadas!!!
Mas vê se de vez em quando aparece por aqui!!
E pode deixar que, se algum dia, for a SP, te aviso!!
Muitas saudades de vc!!
Um bjo enorme da Fê Fernandes

Aline - BA disse...

Oie. Achei esse seu outro lado o máximo!! Adorei!! Me arrepiei com esse post. Só quem é baiano sabe a dor e a delícia de viver nessa cidade linda!!! Bjos.

joana disse...

Mas nao era voce que vivia dizendo que era urbana demais para Salvador??
Nada como o valor de uma partida...
Beijo lindona,
saudade da Jojo