quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Burocracias



Ok. A vida é feita de burocracias. Pra nascer é uma burocracia, pra crescer outra, pra envelhecer então, nem se fala. Até pra morrer, dependendo do caso, rola uma burocracia forte; pro moribundo e principalmente para a família do coitado.


Mas me diga se há alguma coisa mais burocrática no mundo do que ir a um cartório? É burocracia da fila para pegar as senhas até, enfim, conseguir o que você deseja. Ou não conseguir, como foi o meu caso.


Já é um porre ter que entrar com um processo contra alguém. Essa situação já prescinde que a coisa – qualquer que seja ela – não pôde ser feita de uma forma amigável, ou no famoso “de boca”. Quando se entra com um processo contra alguém , já ta rolando um estresse fenomenal e você já vai preparado para enfrentar mais alguns por sabe-se lá quantos pares de meses.


Bem, lá fui eu na quarta feira tirar 720 cópias (isso mesmo)  de vários documentos importantes e originais para levar ao cartório (ontem e hoje), pra depois entregar ao advogado as cópias autenticadas (porque entregar o original não é legal; afinal pode perder, roubarem, molhar, cair café, qualquer coisa e aí é mais um século pra conseguir outro igual). Primeiro isso de tirar 720 cópias. Surreal. Levando em consideração que eu passei a minha faculdade inteira tirando cópias e gastando, quando muito, 3, 4 reais, realmente, eu fiquei assustada em ter que dar 57,88 reais pro moço da Xerox.


Beleza. Cópias tiradas, devidamente organizadas em pastinhas, tudo certo, certo? Errado. Eu por alguma sandice dessa minha cabeça fui animadamente dirigindo meu carro em direção ao cartório do Shopping Sumaré. Ele é meu companheiro de tempos, pois foi lá que eu abri a minha primeira firma. Aliás, que nem deve valer mais, por que a minha assinatura mudou totalmente. Comentário rápido: nem me lembro mais porque tive que abrir essa firma, mas isso existiu em algum momento da minha juventude.


Lá, o cartório só funciona a partir das 14h. E são poucas senhas distribuídas. Como ainda era final da manhã, fui pra lá (como eu e minha irmã fizemos durante um período de muitas idas ao cartório) e almoçaria por lá mesmo, assistiria uma tevêzinha básica na pracinha de alimentação, pegaria minha senha, autenticaria meu mar de papéis e iria pra casa me sentindo útil. Ledo engano.


Pra começar, como aqui em Salvador não temos horário de verão, a programação passa uma falsa impressão das horas. Resumo: eu estava assistindo Jornal Hoje achando que já era uma, uma e pouco e que nada! Meio dia ainda... Mas beleza, terminei de assistir o jornal, Vídeo Show, Coração de Estudante e pronto: o cartório abriu. Massa! A minha senha era uma das primeiras, então ia me liberar rápido.


Quando finalmente me chamaram, eu levei minha sacola de papéis (sim, eles estavam numa big sacola plástica) e despejei com delicadeza no balcão da moça com um simpático “Boa Tarde” que não foi respondido de maneira compreensível. Tudo bem, eu não estava nem um pouco sensível e queria sair dali o mais rápido possível. Eis que se trava o seguinte diálogo:


Moça do Cartório: ok. Me dê as 30.


Zezé: Na verdade são 720...


MC: Eu ouvi. Mas estou lhe pedindo as 30. (com irritação)


Z: A senhora quer de 30 em 30? (eu já preocupada com o sistema de organização que eu tinha levado 1 hora pra desenvolver...)


MC: Não meu amor, (uma facada no meu rim), eu estou LHE dizendo para você me entregar as 30 páginas para mim (segunda facada, no baço) autenticar.


Z: E eu estou LHE dizendo que além dessas, tem mais 690 pra você fazer a mesma coisa. (com muita irritação)


MC: Só que cada pessoa só pode autenticar 30 por dia.


Z: Como? (Numa conta rápida, que nem eu acreditei que eu fiz) Você está me dizendo que eu preciso levar 24 dias para autenticar a documentação que eu preciso?


MC: Leva isso tudo é? Vixe....


Z: Sim. Mas isso é só aqui ou em qualquer um?


MC: (A segunda melhor resposta do dia acompanhada de um sorrisinho irônico) Não sei... eu só trabalho aqui.


Z: (A MELHOR resposta do dia, com um sorrisinho mais irônico ainda) Ah tá, achei que a senhora trabalhasse no circo também, apresentando um número de Palhaçada.


Virei de costas e saí, que eu não ia ficar pra ouvir a tréplica dela, óbvio. Fui pra casa com a idéia de procurar outro cartório, mas fiquei achando que se eu recebesse mais algum sorrisinho irônico naquela tarde, eu ia começar a rezar para uma nova aorta milagrosamente brotar em mim, a fim de suportar o fluxo sanguíneo que certamente se direcionaria à minha cabeça e, como eu rezo muito pouco, terminei desistindo.


Hoje de manhã, peguei meu pai na casa dele e fui a outro cartório no Shopping Pituba Parque Center, pertinho de nossas casas, certa de que o problema era daquela mulher e não meu. Além dos documentos serem dele e para ele, (no dia anterior eu deixei ele em casa para poupá-lo do saco) meu pai já pega fila exclusiva de idosos, o que aumentaria a rapidez do processo. Não, eu não costumo fazer isso; apesar de muitas pessoas confundirem meu pançume com uma gravidez, eu não uso esse subterfúgio vil e feio. Mas pelo amor de deus, as minhas boas ações semanais já tinham acabado por ontem. Lá fomos pegar nossa fila enoooooorme exclusiva.


Na nossa vez o singelo senhor autenticador (não sei o cargo dele de verdade, mas é essa a função) que faz tudo muito “educadamente”, virou para nós e pediu que aguardássemos um instantinho que ele ia ali tirar a água do joelho. Ok, mais informações do que eu precisava. Depois de quase 10 minutos, ele volta e me pergunta o que queremos. Meu pai diz o que é. O inicio do fim....


O senhor “gentil” e “educado” primeiro disse a meu pai que a fila exclusiva deveria andar rápido (porque afinal de contas ele leva 10 minutos no banheiro e precisa compensar o tempo!) e não podia fazer isso. Segundo, deu uma olhada demorada pra mim e disse a meu pai que a documentação deveria ser da pessoa que estava na fila, gentilmente sugerindo que meu pai estava na fila por minha causa. Ah, nessa hora eu pirei geral! Fiquei possessa e despejei minha raiva da mulher do outro dia e dele, nele. Disse que era um absurdo, que não era possível que uma pessoa não conseguisse fazer uma coisa tão simples!! Foi aí que ele confirmou o que a mulher do outro cartório tinha dito (o babdo das 30 cópias) e que se eu quisesse, eu desse meu jeito. A essa altura, meu pai estava calmamente tirando a identidade da carteira para comprovar que os documentos eram dele e eu tentando arrastar meu pai dali ao berros.


[Aqui em casa a gente não xinga na frente dos nossos pais, crescemos assim. Mas hoje meu pai teve o desprazer de me ver xingar coisas que eu nem sei se ele sabe o que é.]


Bem, enquanto eu estava no auge da minha fúria, olhei rapidamente para cima do balcão e vi um papel escrito dizendo que, resumidamente, segundo o artigo tal, parágrafo tal desacato (xingar, agressão física e outras mais) ao funcionário público (o senhor “simpático", no caso) dava multa e cadeia na hora. Foi então que eu me lembrei ter visto quando chegamos que, lá no cantinho, no fundo do cartório estava um PM. Tá. Fiquei tensa. Mas aí eu fiquei com medo de verdade quando resolvi olhar pro PM e ele tava me olhando fixamente!!! Aí eu me desesperei total e sai (literalmente) empurrando meu pai dalí, que ainda estava tentando convencer o moço lá de que eram deles os documentos. Meu pai é mesmo um cara pacífico e naquele momento o que mais importava para ele era a integridade cidadã dele. E eu desesperada com medo de ser presa!!!!!!


 

Finalmente cheguei no carro suando igual a uma porca, com uma raiva danada e sem saber o que fazer. Porque o juiz quer as coisas bonitinhas para olhar, maaaaaaasssss.... quer dizer que pra isso eu vou ter ficar 24 dias caminhando a um cartório (novo, é claro, porque eu não sou nem besta de voltar nesses dois)??? Tensa total. Ainda não descobri exatamente o que fazer.


Fim do dia: minha cabeça está aqui explodindo desde aquela hora; fato esse que comprova a minha teoria que aortas milagrosas não brotam em corpos pagãos como o meu....


ps: a imagem que eu botei ali em cima, foi uma ironia, ok pessoas?


Zezé    


Um comentário:

emmibi disse...

huahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahua

desculpe. mas a história é mesmo engraçado.

como foi que vc fez???